
Numa estatística muito informal que fiz, constatei que apenas a medalha de ouro de Nelson Évora nos JO interrompeu o tema de abertura dos telejornais: nos outros dias, e de há 3 semanas para cá, de uma maneira ou de outra, foi sempre o crime violento que apareceu como principal notícia do dia. Acima destas coisas, os políticos deste país não pareceram muito preocupados com a escalada da violência, e muito menos interromperam as suas merecidíssimas férias para virem tratar de um assunto que apenas diz respeito ao povinho... até conseguem justificar a violência com o facto de nos outros países ser pior... portanto, não se passa nada de anormal: a morte de uma criança num carro utilizado num assalto, a morte de um ourives no seu local de trabalho, o rebentamento de uma carrinha de valores, os roubos das caixas multibanco dentro dos tribunais - aqui, o caricato da situação ainda é maior, parece gozo! - o importado carjacking, os assaltos diários a bancos e ctts, muitas vezes com reféns... bom, nada de especial, está tudo bem...
... Está tudo bem para quem assiste ao desenrolar dos acontecimentos sentado no seu sofá em frente ao televisor... porque isto dos crimes e das mortes violentas só atinge mesmo o próprio e as famílias das vítimas... o pior é que cada vez mais a roleta-russa pode calhar a qualquer um de nós!
Esta onda de crimes violentos em Portugal era mais do que previsível! O crime organizado descobriu em Portugal um paraíso para as sua práticas: fronteiras escancaradas, brandíssimos costumes - agora ainda mais brandos para os prevaricadores com as novas leis penais! -, uma justiça ao sabor do vento (um violador reincidente ficou esta semana sujeito a termo de identidade, uma mulher que roubou um telemóvel ficou em prisão preventiva!!!), um desinvestimento na segurança, vão conduzir Portugal a um estado de qualquer coisa menos de direito - embora haja quem advogue que toda esta situação acaba por dar que fazer a uma série de gente e empresas: advogados, seguradoras, empresas privadas de segurança... num país onde muitas vezes até parece que o malfeitor é quem trabalha e que a vítima não tinha nada que estar no local do crime...
Sabiam que se uma pessoa chegar às urgências de um hospital como vítima de um crime tem que preencher uma série de papéis e burocracias - se, entretanto, morrer já não precisa preencher nada, outros preencherão por ele... por isso, se um dia forem vítimas de assalto e precisarem de ir ao hospital digam que sofreram um acidente - isto é a sério!