segunda-feira, 31 de março de 2008

SOBRE OS TELEMÓVEIS NAS ESCOLAS - Textos de Rui Ramos

O mais fácil - e também o mais difícil - é proibir a entrada de telemóveis nas aulas. Os papás desataram a comprar topos de gama para os filhos para estes «estarem sempre contactáveis» e não os aborrecerem muito. Substituíram o amor, o afecto, o tempo de convívio por ofertas de telemóveis e respectivo saldo.
Agora queixam-se das consequências.
Alunos adolescentes sem telemóveis na mochila ou no bolso ficarão num estado patológico de ansiedade e de vazio, não prestarão nenhuma atenção às aulas, só esperarão, em estado de nervos, pelo fim da aula, para ligarem o telemóvel e estarem contactáveis. Muitos namoros poderão desfazer-se até.
Proíbam e verão a percentagem de absentismo às aulas disparar.
Proíbam e verão as mentes ausentes dos alunos.
Proíbam e verão as idas à casa de banho crescerem.
Proíbam e verão ainda mais insucesso escolar.
O problema não está na proibição, está na «ideologia tecnológica» destes tempos. Eu e um dos meus netos de 9 anos contactamos diariamente pelo messenger na net, e ele pede-me para eu lhe passar contas. Farto-me de o ensinar através desse instrumento.
Tal como o messenger, o telemóvel também é um instrumento do homem.
Aparecerá alguém que consiga coadunar e integrar os serviços que o telemóvel pode prestar ao ensino numa aula?
Os jovens agradecem.


PROÍBAM OS TELEMÓVEIS NA A.R.!!!

Lembro-me dos primeiros «telemóveis-tijolo» e de quem os tinha: os empreiteiros e construtores civis. Exibiam-nos quando saíam dos Mercedes. Depois apareceram os motorolas «globtrotters» pretos cuja bateria durava 8 horas. Comprei um que me custou 110 contos há duas décadas. Ninguém tinha telemóvel. Quando o meu tocava eu escondia-me porque toda a gente olhava para mim com um «ar canibal».


Ainda antes de 2000 namorei por telemóvel, ele eram mensagens, toques, risonhos, ainda nada de imagens, mas o instrumento já permitia altas eroticidades entre namorados... e até orgasmos. Como os pais ainda não tinham entrado abertamente em cena, havia restrições «orçamentais» e assim dava-se um tok a horas combinadas para avisar os amigos q se estava ebm, e dois toks para pedir uma chamada de volta. Depois vieram as terceiras gerações, com o seu manancial de trocas de imagens, os pais abriram a mão - os filhos começavam a dominar em casa -.
Escolas? São apenas uma parte do problema.

Veja-se a Assembleia de República. Quem nunca pecou que atire a primeira pedra. Veja-se reuniões dos CA das empresas. Veja-se os restaurantes, os transportes públicos, os cinemas, os concertos, os hospitais. Ninguém, nunca desliga o telemóvel. Põe-no no slêncio, deixando o vibrador «on». O telemóvel é um objecto que nos costuma ser furtado na rua quando estamos a usá-lo. Fácil, tira-se com uma mão. Um dia veio numa maré viva uma onde gigante arrebatou-me o telemóvel. Mergulhei e recuperei-o, mas nunca mais fui o mesmo. Fiquei sem informação íntima que eu considerava vital para mim. Sobrevivi a custo. Mas que contradição a destes tempos! Um objecto que se pode pisar, deitar na sanita, é o nosso companheiro mais íntimo, tem todos os nossos segredos, é o fundo da nossa alma... mas tão volátil, como tudo agora.
A professora não compreendeu. Qd vi as imagens pensei tratar-se de uma disputa de namorados. A professora a querer descobrir algo que incriminasse a jovem. Parecia algo pessoal. Já vi cenas dessas entre raparigas pq a informação secreta da «traição» estava no telemóvel. Nunca tinha visto numa sala de aula.

Bem, o importante, para a jovem não é ser «reeducada», nem reprovar, nem ser admoestada. O importante foi a professora não ter profanado aquela parte mais profunda da sua alma. Para defendermos os nossos mais escondidos segredos, até por vezes sacrificamos a vida.

Proíbam os telemóveis na AR, nas reuniões dos Conselhos de Ministros, aos médicos nos consultórios médicos, etc., etc., etc. Dêem o exemplo aos jovens.

(Texto do meu amigo Rui Ramos)

14 comentários:

Sol da meia noite disse...

Uma boa semana.
Bj

Gi disse...

Em troca deixo-te aqui uma crónica da Alice Vieira sobre o tema. Também a mim me espanta o espanto !

Um beijinho, boa semana

Andreia disse...

Hoje em dia os miudos são telemovel-dependentes!

Um Momento disse...

Concordo plenamente!
Assim como proibiram fumar em locais "fechados" ( e eu sou fumadora),deviam proibir o uso do telemóvel em situações e locais explicitos!
( e eu também tenho telemóvel)
Mai nada!
Bom post!

Deixo um beijo sorridente

(*)

Anónimo disse...

Não sou adepta de coisas impostas (proibiçoes), tenho pena que cada um de nós nao saiba até onde podem ir os limites de nao incomodar a os que nos rodeiam,e bem assim a sociedade.O caso do telemóvel,nao existiria se tivesse sido bem usado,claro fora da sala de aula.Tudo tem de se saber dizer na hora certa.Assim vamos aprendendo todos e teremos a nossa propria liberdade.Vai levar tempo mas lá chegaremos.Eu acredito.!

Isabel Filipe disse...

5 estrelas o texto...

gostei


bjs

Marrie disse...

Há qto tempo não vinha aqui!!!
Concordo em número, gênero e grau com o texto do teu amigo.
A sociedade está criando seres acéfalos e nem percebem!
bjs e aguardo tua visita nos meus "segredos"

Enfim... disse...

o exemplo tem de partir de cima isso sem duvida e quando não parte acontecem destas.

Quanto a miuda acho que foi mal tanto a atitude de uma como a de outra, mas isto sou so eu e concordo com as consequencias que frizas do facto de deixarem de existir tlm na sala de aula.
estaremos ca para ver a nossa educação a cair cada vez mais e a perder as suas qualidades

Beijinhos

Um Momento disse...

Então muito Boa sorte !!!!!

:)))))))))
( òh eu á espera do almoço á borlix:D)

Beijo de BOM DIA!!!

(*)

Menina do Rio disse...

Falta pouco pra criar-se a campanha:

" ABAIXO O TELEFONE CELULAR; ele é uma droga que vicia e corrompe a mente,desvia a atenção, deturpa a células do cérebro e agride o silêncio".

Enfim, este aparelhinho tão discreto e elegante, tornou-se um perigo para a civilização!

Anónimo disse...

Que bom tivesses duas horas de magia||||???? (mas não é o mais importante da tua existencia)aposto que é um pouco exagero né?ehehh. beijinho, tb gostava do tal almoço, claro que sim.!!! mulher

foryou disse...

Desta vez perdoa-me mas vou discordar um pouco.
"é proibir a entrada de telemóveis nas aulas" discordo plenamente. As proibições nessa idade levam quase sempre à prevaricação.
"está na «ideologia tecnológica» destes tempos" neste ponto já concordo mais um pouco, porque realmente não basta utilizar a tecnologia, há que aprender a utilizá-la.
Acima de tudo há que aprender a cumprir regras, a respeitar os outros, em suma, a viver em grupo. Penso que é aqui que bate o problema. Quando este estiver resolvido, então sim, será possivel que todos tenham consigo o telemóvel sem qualquer prejuizo, será até possível melhorar substancialmente todo o processo de ensino.

Anónimo disse...

Estes textos expõem formas diferentes, mas bem realistas de analisar, não tanto o que passou na situação do telemóvel entre a aluna e a professora, mas a maneira como se tem acesso às tecnologias e como se usam as mesmas.
O telemóvel e a internet fazem parte do quotidiano de muitas crianças, jovens e adultos e ocupam um lugar tão importante na sua vida, que é difícil pensar não usá-los, mas esse uso, no meu entender, tem que ser feito de forma correcta, com equilíbrio.
Acho que é ai que reside o problema, temos a liberdade de usar as coisas, mas nem sempre nos preocupamos com os outros, se os incomodamos ou perturbamos. Cabe a cada um de nós lembrar-se que "a nossa liberdade termina onde começa a de outra pessoa."
Em relação ao caso concreto do telemóvel na sala de aula, não há justificação para a falta de educação e de respeito da aluna e da turma perante a professora. Sem regras e sem limites não se consegue viver, nem estar em grupo e em sociedade e há que encontrar a melhor forma de gerir tecnologia, escola, sociedade e civismo. Que se continue a usar a tecnologia, mas com o devido respeito pelos outros.
Foi graças ao uso de um telemóvel que se levantou a ponta do véu da indisciplina e se registou o modo de estar de alguns alunos na Escola. Que se use isso para reflexão, para se encontrarem as melhores soluções e para haver entendimento e bom senso, onde o cumprimento de regras é essencial.

Alex: mais uma vez um óptimo artigo sobre um assunto que nos diz respeito a todos.

1 :-) e 2 beijos.

Anónimo disse...

Se as regras forem claras, os alunos só têm que cumpri-las. A verdade também é que o exemplo deve vir dos adultos e, nesta matéria, alguns não se têm portado muito bem. Acontece na A.R., como acontece, inclusive, em reuniões de pais nas escolas.