Lembro-me do dia 25 de Abril de 1974. Entrava na escola às 8.30 h, tomava sempre o pequeno-almoço com a minha mãe e não perdia o noticiário das 8 num pequeno rádio de pilhas (os célebres transístores), penso que na então Emissora Nacional (hoje Antena 1). Nessa manhã em vez das notícias só se ouvia música tipo marchas militares. Eu e a minha mãe pensámos que seria uma avaria qualquer e não ligámos!
A minha irmã mais velha (a mais nova ainda nem tinha 2 anos) já tinha saído para a escola com as colegas, e eu fui sozinho, como era habitual. Mas logo encontrava colegas e amigos meus. A primeira aula foi a de Matemática - a do tal professor que nunca mudara o fato preto que trazia vestido desde o início do ano lectivo - e o professor estava muito nervoso. Andava de um lado para o outro na sala e dizia que o Terreiro do Paço em Lisboa estava cheio de tanques e militares. Para nós, isso pouco ou nenhum significado tinha - estávamos mais preocupados com as notas abaixo de zero que o professor costumava dar nos pontos - resta acrescentar que o professor de Matemática nunca mais apareceu desde esse dia...
Mas nesse dia nem a aula terminou. Alguém foi à sala e disse para sairmos todos da escola que não haveria mais aulas. Ficámos eufóricos, saímos a correr e encontrámos cá fora muitas mães, inclusive a minha - poucas mulheres naquela altura trabalhavam fora de casa -, que nos explicaram que tinham havido qualquer coisa, um golpe militar ou coisa assim...
Foi bom porque na programação da televisão na hora de almoço passaram a série «Viver no Campo» com Eva Gábor, que já não transmitiam há muito tempo. Na rádio entretanto transmitiam comunicados referindo que as rádios e as televisões tinham sido ocupadas por militares e que o governo de Marcelo Caetano estava retido num quartel em Lisboa. Aconselhavam as pessoas a ficarem em casa mas parece que muita gente não acatava essa ordem.
Não conseguíamos contactar com o meu pai - não se esqueçam que não havia telemóveis na altura - mas afinal ele veio um bocadinho mais cedo para casa. À noite na televisão apareceram uns militares graduados. O meu pai ainda foi ao meu avô e ouvi-os comentarem qualquer coisa como «era previsível» ou «já aconteceu». Pela conversa das pessoas reinava a alegria e parece que se tratava de uma coisa boa.
Nessa noite choveu e uma das minhas grandes preocupações foi para com os militares que estavam alojados perto do Cristo-Rei em Almada: pensava eu que a chuva iria demover os militares e que tudo iria acabar mal... só uns anos mais tarde é que descobri que «chuva civil não molha militares», hehehe...
A minha irmã mais velha (a mais nova ainda nem tinha 2 anos) já tinha saído para a escola com as colegas, e eu fui sozinho, como era habitual. Mas logo encontrava colegas e amigos meus. A primeira aula foi a de Matemática - a do tal professor que nunca mudara o fato preto que trazia vestido desde o início do ano lectivo - e o professor estava muito nervoso. Andava de um lado para o outro na sala e dizia que o Terreiro do Paço em Lisboa estava cheio de tanques e militares. Para nós, isso pouco ou nenhum significado tinha - estávamos mais preocupados com as notas abaixo de zero que o professor costumava dar nos pontos - resta acrescentar que o professor de Matemática nunca mais apareceu desde esse dia...
Mas nesse dia nem a aula terminou. Alguém foi à sala e disse para sairmos todos da escola que não haveria mais aulas. Ficámos eufóricos, saímos a correr e encontrámos cá fora muitas mães, inclusive a minha - poucas mulheres naquela altura trabalhavam fora de casa -, que nos explicaram que tinham havido qualquer coisa, um golpe militar ou coisa assim...
Foi bom porque na programação da televisão na hora de almoço passaram a série «Viver no Campo» com Eva Gábor, que já não transmitiam há muito tempo. Na rádio entretanto transmitiam comunicados referindo que as rádios e as televisões tinham sido ocupadas por militares e que o governo de Marcelo Caetano estava retido num quartel em Lisboa. Aconselhavam as pessoas a ficarem em casa mas parece que muita gente não acatava essa ordem.
Não conseguíamos contactar com o meu pai - não se esqueçam que não havia telemóveis na altura - mas afinal ele veio um bocadinho mais cedo para casa. À noite na televisão apareceram uns militares graduados. O meu pai ainda foi ao meu avô e ouvi-os comentarem qualquer coisa como «era previsível» ou «já aconteceu». Pela conversa das pessoas reinava a alegria e parece que se tratava de uma coisa boa.
Nessa noite choveu e uma das minhas grandes preocupações foi para com os militares que estavam alojados perto do Cristo-Rei em Almada: pensava eu que a chuva iria demover os militares e que tudo iria acabar mal... só uns anos mais tarde é que descobri que «chuva civil não molha militares», hehehe...
(Este texto foi retirado e adaptado de um diário que eu escrevia na altura. As fotos foram feitas por mim hoje e a música é o Paulo de Carvalho em «E depois do Adeus»)
Mas se querem saber tudo sobre o 25 de Abril sugiro uma visita ao blog da PEKENA (clicar) que, e apesar de muito jovem, conseguiu transcrever aquilo que foi o 25 de Abril e tudo o que representou e representa. Vão lá ver... e ler!!!
38 comentários:
Só podia ser uma "redacção", um excerto de um diário, da época...
Comoveste-me. Pela tua escrita. Pelas fotos. Pela música.
Afinal, comoveste-me pelo teu post...
Lindo, Alexandre.
Beijinhos
Eu tambem não tive escola.E ao regressar a casa lembro bem os chaimites perto da emissora nacional (morava perto) e na assembleia da republica e muitos militares e gente nas ruas....bons tempos
Sem escolinha que maravilha. Amanhã leio com calma o teu post, porque agora tenho a minha irmã que acabou de chegar a casa e está louca pra ir para o pc.
Para mim é sp gratificante saber que os meus posts possam interessar aos outros.
Muito obrigada Alex.
Beijinho mt grande e votos de um bom feriado.
Até amanhã :)
Bjs da Pekena***
Faz parte dos meus sonhos.
Beijinhos embrulhados em abraços
ABRIL - OBVIAMENTE PORQUE SÓ O AMOR É REVOLUCIONÁRIO.VALEU A PENA SONHAR - ACORDADO- NA IDEIA QUE NÃO PODEMOS ADOEMECER.É URGENTE SONHAR - ACORDADO - PARTILHAR .O PIOR DE TUDO É A INDIFERENÇA.
Alex...em primeiro lugar quero-te te dar os parabéns pelo belo texto que escrevestes recordando as tuas memórias de criança,que nessa altura era já bem visível o teu gosto pelo mundo das letras.
Naquela altura incutianos muito bem a sabedoria pelos trilhos da história,hoje infelizmente pergunta-se a um jovem o que ele pensa do 25 de Abril, não o sabem descrever e muito menos fazer uma pequena diáspora do tempo.
Bom feriado amigo,eu passo-o a trabalhar.
Bjs Zita
Tinha 12 anos quando, em segredo, contado por uma colega da mesma idade, soube o que era a Pide, as atrocidades que se cometiam, o fascismo e, percebi então, o que era a liberdade. Foi quando li António Gedeão e conheci Zeca Afonso e Sérgio Godinho. O pai desta amiga era perseguido pelos ideais que tinha e o tio foi preso e morto pela Pide. Guardei comigo este segredo, porque me foi pedido, durante 2 anos. Quando se deu a Revolução foi nesta minha amiga que pensei. Passava a ter o pai com ela. Sem medos. Finalmente podia falar.
Por ela, que sabia com aquele idade do que muitos adultos, que de certa forma me politizou, dei o seu 1º nome à minha filha.
No 25 de Abril também fui para o liceu, depois fui para a baixa com os colegas, queria ver a revolução de perto. Foi preciso ter azar ter saído na estação do metro do Rossio, subir as escadas da Praça da Figueira e , no meio de milheres de pessoas, dar de caras com o meu padrasto !!! Fui mandada de volta para casa, nem ele nem eu era suposto estarmos ali :). Da revolução in locco foi o que vi. Os ultimos degraus da estação de metro do Rossio, o resto só na televisão :) . raio de histórias que me fui lembrar ...
Deixo um beijinhos em forma de cravo vermelho
Gostei da tua descrição de como viveste o 25 de Abril.
Eu nessa altura já dava aulas e aconteceu-me algo idêntico de manhã com a rádio. Só que não houve interrupção de aulas, já que vivia (e vivo) numa pequena cidade.
Só ao meio dia soube o que se estava a passar e não sabia muito bem o que dizer aos meus alunos, já que mal podia imaginar que a revolução tivesse sucesso.
Nos dias seguintes sim, pude dar largas à minha alegria e explicar-lhes uma série de coisas que até então não pudera.
Hoje, o meu entusiasmo de então continua vivo, só lamento que a tão almejada libertação não tenha sido mais completa.
Ainda temos muitas revoluções por fazer.
Um abraço.
Eu também como tu ouvia marchas na rádio, ainda estava em Moçambique, mas para ser sincera não me lembro de muito mais. Lembro-me de ouvir os meus pais falarem sobre o assunto, e andava tudo comuvido em casa, mas nada mais...Tinha eu 9 anos, já era para ter idade de me lembrar mais, mas naquela altura em Moçambique, os meus pais nunca queriam envolver as filhas com assuntos adultos...
Um bom feriado para ti
adorei as fotos que publicaste
:)
Gostei muito deste post! :-) E as fotos são lindas! Umas pinturas giras! Bom Feriado
aio que bom ver e ouvir ISTO!!
(TUDO.TANTO!!!)
~
abraçOOOO :)
Eu já era mais crescidinha. Tinha 23 anos e lembro-me muito bem, não só do que se passou naquele dia e dias seguintes,mas também do que antes se passava lá para os lados da cidade universitária e na fac.Belas Artes ou da de Ciências. As bastonadas no estudantes.Os encerramentos das faculdades.E eu digo muita vez que: mais que 5 ou 6 estudantes a falarem em grupo, já era considerado um comício e...ordem de dispersar.
Depois do 25 Abril, houve festa e durante uns 3 dias ninguém trabalhou, nem houve aulas...
ficou-nos a memória. Estas coisas nunca se esquecem.
bom resto de semana
...eu só soube do 25 de Abril, no dia 26 de manhã....
eu ... e muitos mais....
bjs
Excelente relato! Que perdure a memória que mantém aceso o espírito de Abril! sempre!
Bjs. Passa um bom dia.
Oi meu amigo, meu anjo,
Hoje não comento, pois este dia marcou para sempre a pior altura de minha vida e para sempre assim ficará. Me desculpa, mas sempre gosto de ser sincero.
Mas hoje precisamos não de um 25 ou 26 ou outro Abril, mas de algo que desperte os portugueses para a vida, pois quem "nos governa" precisa saber que não pode apenas se governar a si.
Desejos de bom fim de semana e uma semana cheia de paz.
Xi - corações mil.
Alexandre,
Gostei muito do seu texto.
Eu, mais velhinha do que você, estive todo o dia agarrada ao rádio e ia sabendo notícias por um amigo(hoje meu cunhado) que correu a cidade para tentar perceber o que se passava.
Tenho muita pena de não ter também ido para o Carmo mas tenho uma irmã mais nova e tive receio que alguma coisa menos boa lhe pudesse acontecer.
Como digo no meu post esse dia e os que se seguiram foram dos mais felizes de toda a minha vida.
Hoje que está muita coisa mal, não deixemos esquecer Abril.
Hoje deixo-te um cravo e os meus sonhos. Liberdade. Justiça, Igualda.
Beijinhos embrulhados em abraços.
Viva Alexandre:
Viva o 25 de Abril... e não se esqueçam de ensinar aos mais novos de qual a importância dele para a vida colectiva dos portugueses.
Forte abraço,
Parabéns Alexandre pelo teu texto..Além de não me trazer boas recordações este dia!
Mas respeito quem o festeje!
talvez houvesse a necessidade de se fazer algo...mas não da forma que foi feito...
Um bj Sony
Sem festejos
Irá pois fazer parte da Hitória...Bjca
Olá de novo Alexandre, pois quanto à sugestão de ir postando à cerca das consequencias...penso que não o farei...não se vive agarrada ao passado...quanto aos que nunca recuperaram, é bem verdade mas esses também já não estão entre nós!
Mas eu estou! E respiro...e agradeço!
Um bj Sony :-)
Apenas não festejo este dia...
Acabei de ler a tua narrativa...
e estou a chorar...pois revi-me em ti...e no que escreveste!
Há 33 anos...não estava em Lisboa...mas sim numa pequena cidade do Alentejo profundo!
Mas de lá.. através da rádio... estávamos ao corrente do que se estava a passar!!
Recordo que também entrava ás 8h 30 mn...e quando cheguei á escola...já havia rumores que algo se estava a passar em Lisboa!
Agora para desanuviar... e estas lágrimas rebeldes secarem...vou confessar-te uma coisa..
Eu nem sabia o que significava a palavra " fascista"!! :))
Pronto...já sorri.... mas..regressei no tempo....contigo :))
Beijos
Maria
ora aí está uma descrição que é muito similar à minha...
É pena que as pessoas não deêm valor ao que foi feito e ao sabor da liberdade. Lá está so se da valor aquilo para o qual se tem que lutar para obter, infelizmente.
beijos
Que texto fabuloso! Adorei!
Beijo grande
Olá Alexandre
Gostei de te ler, já escrevias umas coisas jeitosas há 33 anos atrás, muito bem!!!
Há, para mim, outras recordações do dia 25 de Abril:
Ano de 2001 - 25 de Abril
Neste ano e neste dia, eu estava «presa» por outra razão... presa ao Amor/Paixão.
E, divagando, aqui te ofereço estas palavras:
Hoje queria,
Encher-te de rosas cor de pêssego,
Queria acordar-te
Com uma flor pelo corpo,
Queria hoje...
Hoje queria amar-te muito,
Queria hoje,
Porque...
O quero todos os dias.
Espero que tenhas passado um bom feriado.
Beijos e abraços.
Pois foi :) há 33 anos foi assim.
Obrigada, pelas memórias (ligeiramente diferentes e ligeiramente iguais às tuas) que me fez reviver este post
Eu ainda não estava neste Mundo!
Mas ainda bem que não tive de passar essa fase!
Bjs.
Ola Alexandre!
Gostei muito do teu Blog mais concretamente deste Post!
Mas neste teu espaço aproveito as palavras do nosso Presidente da República.."celebrar o 25 de Abril como um marco da nossa liberdade" não como um ritual e alertar os nossos jovens para saber gerir essa liberdade. Há medida que fui crescendo fui ficando triste com o que me rodeia com excesso de liberdade pelo qual se lutou tanto, tantas faltas de valores....em fim!
Esperançadas saudações*****
FAN-TÁS-TI-CO... adorei o teu texto, Alexandre.
Um grande beijinho!
Belas as fotos e os desenhos de esperança feitos pelas crianças. Gostei bastante da descrição do "teu" 25 de Abril.
Parece-me que irei clicar mesmo no link para ver o que por lá diz sobre o 25 de Abril.
Bjs
TD
tinha 10 anos, e lembro-me da primeira coisa que a minha mãe disse: os meus filhos já não terão que ir à guerra (valeu a pena também por isso)...
Do 25 de Abril sei apenas o que me contam e o que li e aprendi...
Adorei ler o teu texto hoje!
Beijinhos
gostei do post e lindas pinturas =)
bjinhos
ainda eu nao era nascida:)
mas viva a liberdade..:)
Olá Alexandre!!
estas fotos lembraram-me também o 25 de abril quando eu andava na escola, eramn exactamente esses desenhos, que giro!
beijitos!
:)
Belo post Alexandre!!! Adorei:)))
Que a liberdade possa crescer melhor em Portugal e no mundo inteiro...!!!!
Um beijinho grande
E EU A JULGAR QUE , CONFORTADOS COM O COMPROISSO DE A CIA e a KGB DE NÃO PERTURBAREM *OS MENINOS*, OS *BRAVOS CAPITÃES DE ABRIL* , ENTARAM NA BEM ENSAIADA COMÉDIA DE *LIBERTAREM OS PORTUGUESES* DO *JUGO DO FASCISMO* QUANO AFINAL SE TRATOUU DE UMA ENCENAÇÃO CUJO ÚNICO FIM FOI PERMITIR-LHES SAÍREM ILESOS DA GUERRA E PASSAREM A GORDAS REFORMAS SEM TEREM A *CHATICE* DE ANDAREM AOS TIROS NO MATO!
*PARECEU TUDO TÃO +REAL*!
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