quarta-feira, 31 de outubro de 2007

NO TEMPO EM QUE SE «DAVA» A VIDA PELA PÁTRIA!

Cresci nos anos da Guerra Colonial ou Guerra do Ultramar. Por isso, na altura, pensava que as coisas eram mesmo assim, ou tinham que ser assim! Embora sempre vivesse na Metrópole (Portugal), ouvi muitos relatos de Guerra - alguns dos quais vejo agora confirmados e documentados no programa de Joaquim Furtado às terças-feiras na RTP.

Da Guerra Colonial lembro-me da mãe de um colega meu, que andava sempre de preto porque o marido tinha morrido na Guiné comido por crocodilos. Um tio meu tinha fotografias dele próprio fardado em Angola espalhadas pelas casas dos familiares - mais de 40 anos depois esse meu tio está agora a pagar a factura psicológica da guerra. Lembro-me de um folheto impresso em tons de verde que a minha mãe tinha com a fotografia e os nomes dos soldados oriundos de uma região do Alto Alentejo que tinham morrido na guerra. Lembro-me também de um soldado que andava a pedir umas tranças para pagar uma promessa - e a minha mãe pegou nas tranças que ela própria cortara anos antes e deu-lhas: ainda hoje não «perdoo» essa oferta da minha mãe.

Na Televisão todos os anos pelo Natal centenas de soldados vinham «falar» às famílias, e nós ríamos com as tropelias que alguns deles faziam da língua portuguesa, em especial quando trocavam «prosperidades» por «propriedades». Alguns meses antes do 25 de Abril a TV anunciou com muita antecedência uma reportagem que não deveria ser vista por pessoas sensíveis: passou no telejornal e era um indígena em Angola a ser fuzilado por um grupo de brancos. À revelia dos meus pais vi o episódio e na altura marcou-me bastante pois não percebia bem o que se passava.

Em casa de um tio meu que era sargento da GNR encontrava muitas revistas militares onde se lia que a Guerra do Ultramar era perfeitamente sustentável. Mas passados estes anos todos - e a história via-se escrevendo aos poucos - penso que a guerra não trouxe benefícios para nenhum dos lados, muitos morreram por «amor à Pátria» quando nem sequer sabiam porquê.

O excelente programa de Joaquim Furtado mostra o quão pouco sabemos da nossa história recente, porque o 25 de Abril teve uma espécie de inibição em falar do passado recente, talvez porque muitos dos protagonistas de então continuam a ser os protagonistas de agora!

29 comentários:

Teresa David disse...

Tenho tido tentações de ver o programa do Furtado mas mudo sempre de Canal. Não me apetece mesmo nada reviver a memória de amigos que perdi nessa absurda e estúpida guerra, bem como essa
epoca da minha vida que á distância me parece cinzenta e triste. Cobardia, talvez! Mas não necessito ver as imagens, pois nos anos 60 mostraram-me fotos de tal forma horrendas que ainda tenho as imagens gravadas na memória. E pensar que o País hoje não está assim tão diferente, pelo menos a cabeça de grande parte das pessoas, dessa época de horrores.
Bjs
TD

Unknown disse...

acho k o programa é muito bom mesmo..toda a recolha, o relato, as imagens.. mas eu nunca consegui ver um inteiro..oimpressiona ma imenso!!!!!
Nakele tempo era assim...muitos sofreram e ainda hoje sofrem, muitos ficaram... muitas familias nunca velaram um corpo e isso e muito importante para fazer luto!!

A Flor disse...

Pelos vistos tenho estado a perder um bom programa, vou seguir o teu conselho e estarei mais atenta...

Amigo Alex, quero felicitar-te por teres aderido à causa do jornal "Voz do Retaxo"... com colaboradores como tu, a qualidade do jornal torna-se maior, com certeza! A nossa amiga Elsa é perspicaz e inteligente, por isso, a meu ver, soube escolher muito bem os seus colaboradores, agora que se tornou Directora do referido jornal... um dia destes, será um jornal de referência.... é só esperarmos um pouco e tornar-se-á um jornal conhecido de norte a sul de Portugal.... acredito que sim!

Em relação ao teu (como sempre) belíssimo post, pergunto!?... terá valido realmente a pena as vidas que se perderam na Guerra do Ultramar?! As sequelas que ficaram nos sobreviventes?... penso que não!!! O pior é que se continua a fazer asneiras atrás de asneiras e não se aprende com os erros do passado...

Tem um feriado gostoso e deixo-te um grande beiiiiiiijinho de ternura e admiração :D

Flor

Sol da meia noite disse...

Guerra é guerra, Alexandre...
Entenda-se destruição material, física e psicológica. Esta última, perdura por toda uma vida e anos depois, continua a afectar vidas... Sei do que estou a falar. Já falamos sobre isto. Na altura disse-te que o meu pai combateu na segunda guerra mundial ao serviço dos Estados Unidos. Alguém ligado a mim, na Guerra do Ultramar... mais que uma pessoa até... enfim...

Belo post!
*

Anónimo disse...

Bom tema, este, Alex. Eu estive do outro lado da guerra e por isso considero justa a minha luta, nunca tive «stress pós-traumático». Aderi ao nacionalismo angolano em 1961, ainda adolescente, 4 anos depois já militava clandestinamente no Comité Regional de Luanda do MPLA, estudei Direito em Lisboa, recusei-me a integrar as forças armadas portuguesas, em 1969, «por não me considerar português», nos anexos da casa dos meus pais em Luanda elaborei um manual de guerrilha urbana (CIRU – centro de instrução revolucionária urbana) contra o exército português em Angola, fui «maoísta», «antimoscovo», depois de ler quase tudo de Sartre e Camus em 63-64, estudei as obras quase todas de Marx, Engels, Lenine, Estaline, Mao, Nguyen Giap, Guevara, Malcolm X, Frantz Fanon, Ho Chi Minh, o meu livro de cabeceira era o Retrato do Colonizado e do Colonizador de Memmi. Até que fui preso em Luanda em fins de 1969 e a Pide me brindou com viagem sob prisão Luanda-Lisboa num avião da TAP «devidamente» acompanhado e cheio de frio, e estadas (ou estadias?) em Caxias e Peniche.
Estive no comício de Adriano Moreira em Luanda em 61 qd acabou o regime do indigenato. Vocês sabiam que em Luanda havia retretes públicas separadas para «europeus» e para «indígenas»? E que os europeus eram automaticamente cidadãos c direito a BI mas os negros tinham de ir à missa, comer c garfo e faca, saber ler? Sabiam q os negros só podiam frequentar o cinema Colonial e só nos bancos de cimento da frente sem encosto? E q muitos filmes eram proibidos «a menores de 6 anos e a indígenas»? E q os negros desde tenra idade eram obrigados a trabalhar como serviçais em casa dos brancos e q tinham de ter um «cartão de trabalho» q o patrão assinava todos os dias? E q, se não o tivessem assinado, eram presos nas ruas pelas rusgas, rapado o cabelo com um caco de garrafa, presos e obrigados a trabalhar nas obras públicas?
Sem ser preciso dizer mais nada, não acham q a nossa luta foi justa?

Fay van Gelder disse...

♥•.¸¸.•♥´¨´♥~•.¸¸.•♥´¨´♥•.¸¸.•♥´¨´♥´¨´♥

.....@@.........
...@(´;´)@......
0==/--\\==0.....
.../_!_\\..........
..._| |_.......
BeijuLuzzzzzzzz e Happy Halloween

♥•.¸¸.•♥´¨´♥~•.¸¸.•♥´¨´♥•.¸¸.•♥´¨´♥´¨´♥

Lusófona disse...

Alexandre!! Por pouco que pareça, acho que ainda vivemos em guerra, uma guerra mais silênciosa, mas que causa grandes danos na mesma... será que a paz é ilusão? utopia?!! Deus queira que não..

Beijinhos Querido!

Ly disse...

Eu sinto profunda falta da riqueza de músicas e textos que foram produzidas nas décadas de 60 e 70 diante das diretas...dos movimentos onde as pessoas aqui no Brasil iam as ruas reclamar....atualmente me parece que se conformaram....não há união..

beijos

Ly

Diário de um Anjo disse...

Eu cresci com as histórias que os meus pais contam acerca dessa altura porque eles foram retornados. Concordo contigo quando os portugueses fazem um esforço por apagar essa parte da história ainda bem presente nas memórias de muitos. Só penso que quem sabe o que acontecia pode perceber verdadeiramente as causas do subdesenvolvimento dos Palops que tiveram sobre a nossa "alçada" e as razões do racismo ainda existente, de ambas as raças.
beijos

Suspiros disse...

Eu teria igualmente oferecido as minhas tranças...

sofialisboa disse...

que dôr... sofialisboa

Tiago Mendes disse...

A Guerra nunca é boa para ninguém...

Um abraço! ;)

karla disse...

happy halloween... ;)

Carla disse...

Gargalhadas aterradoras soam no ar, andam por ai bruxas a enfeitiçar
Bruxedos, encantos, magias…
Cuidado!!! Não se deixem apanhar!!!!
(`“•.¸(`“•.¸ ¸.•“´) ¸.•“´)
♥ HAPPY HALLOWEEN ♥
(¸.•“´(¸.•“´ `“•.¸)`“ •.¸)

A Feiticeira do Fantasy
www.fotosdanadir.blogspot.com
--
O Feitiço do Just Feelings
www.ridanfeelings.blogspot.com

A Flor disse...

BOOOOOM DIA ALEGRIA! :)

Vim deixar-te o meu BEIIIIIIIJINHO e dizer-te que tenhas um óptimo feriado. :)

Fica bem amigo

Flor

Isamar disse...

Estou a ver o programa e a grav�-lo. Mem�rias que n�o poder�o perder-se. E programa do Joaquim � marca garantida.

Beijinhos

Maria P. disse...

É um excelente documentário de Joaquim Furtado, mas reviver estas memórias é complicado.

Beijinho.

Pena disse...

Amigo Talentoso Alexandre:
Sim! Lembro-me perfeitamente do que acabas, com brilhantismo, de descrever.
Lembro-me da ignorância que passamos, do inconformismo sentido por muitos, da tenacidade e usurpação de informações da realidade política daqueles tempos.
Amigo Maravilhoso Alexandre, relembro o tempo da guerra colonial, das "propriedades" em vez de "prosperidades" destes soldados que faziam das suas palavras desabafadas perante a ignorância do que estavam ali a fazer. A saudade da família que amavam.
Relembro os valorosos soldados que nunca conheceram a finalidade ou razão da sua presença ususrpadora de uma terra que não era a nossa.
Talentoso amigo, fazes relembrar episódios que nunca estavam esgotados no meu pensamento pela compreensão agora do poder dos mais fortes que escondiam interesses particulares de uma guerra injusta e inadmissível.
O meu pai tinha consciência politíca que era silenciada a pensar na família, mas que conhecia. Questionei-o muitas com curiosidade e ele dizia: Por favor, não me obrigues a responder-te! Compreendia e silenciava-me de imediato.
Relembro os actos eleitorais da ditadura e na existência de um partido nacional único em que todos tinham obrigação em votar.
Lembro-me das injustiças humanas e do imenso controle na opinião pública do que verdadeiramente acontecia.
Enfim...Uma guerra no Ultramar sem nexo, usurpadadora do direito a falta de liberdade de uma opinião própria, sentida, real, pois era segredada pela despropositada e opressiva censura.
Quando aconteceu a reviravolta política com o 25 de Abril chorei de alegria. Chorei pela minha ignorância. Chorei pela maravilhosa sensação de liberdade ao ver sair da clausura dos prisioneiros politicos.
Fizeste bem em relembrar, deslumbrante amigo.
Como escreves bem...!!!
Adoro visitar-te e quero pedir desculpa pelas faltas que exigiam palmatoadas pela beleza do teu "cantinho" maravilhoso.
OBRIGADO, por seres assim.
OBRIGADO por nos presenteares sempre momentos bons e encantadores.
Parabéns!
Um Bem-Haja de respeito, estima e muita consideração pelo que és e representa na poderosa Blogosfera e votos de sucesso e harmonia na tua brilhante existência.
Parabéns!

Abraço Grandioso
Sempre a ler-te com delícia e fascínio.

pena

Alice Matos disse...

Querido Alexandre...
No programa abordam-se os assuntos de diferentes perspectivas, o que ilustra bem a controvérsia que envolve o tema da guerra do ultra mar...

Na minha memória também vivem ainda as histórias dos tios e primos que por lá passaram... e de uma consciência simples mas muito crítica transmitida pelo meu pai...

O meu irmão mais velho, já depois do 25 de Abril, foi um dos paras que encerraram o número de militares que realizaram essa "viagem" penosa...

Realmente é uma fase da nossa história muito mal resolvida... e só faz bem aos mais novos tomarem alguma consciência de factos inegáveis escritos a sangue nas páginas dos manuais... por quem, na maioria das vezes, nem sabia por que notivo matava... e se deixava matar...

Beijo grande para ti...

Lice...

De Amor e de Terra disse...

Olá Alex, boa noite!
Tenho andado fugida, hibernando, mas como já tinha saudades de saber de ti, aqui estou.
Não vou comentar sobre a guerra, desculpa!
Neste momento não dá; só quero Paz!

Beijo

Maria Mamede

Eme disse...

Pouco conehço da nossa História infelizmente (as desvirtudes de ter sido emigrante), mas interesso-me imenso pelos temas que a ela dizem respeito. Da guerra no Ultramar tive bastante informação porque por todo o lado vou conhecendo ex-combatentes que óbviamente contam as suas histórias que a mim, só me fazem pensar que foi uma guerra desnecessária, uma revolta triste que se abateu sobre aquele povo, e muitos deles nem me sabem explicar que carga de coisa andavam a defender, uma política de descolonização qualquer imposta pela nação portuguesa.. Um dos combatentes gabava-se a rir do que fez aos "pretos", a tortura e a decapitação como se fossem os seus trofeus. Falamos nós dos outros holocaustos mas quem lava as mãos daquelas mortes todas no Ultramar? A bela Angola guarda um sabor amargo de um tempo...

Beijinhos ao Alex

irneh disse...

A guerra nunca traz algo de positivo. Apenas as trevas.


Beijinhos

Andreia disse...

Olá!

Espero que tenhas tido um bom feriado!

Anónimo disse...

belos textos:)

posso pedir um pequeno favor?

é possivel fazeres um postzinho a divulgar o lançamento do meu livro na fnac do algarve?

thanks!

ta td aqui:

www.tiagonene.pt.vu

usa a imagem e o link da pagina;)

e claro, se quiseres, .. um poema:)

abraço

BlueVelvet disse...

Alex,
não vi nenhum programa. Não tenho dúvida de que foram óptimos, feitos por quem foram. No entanto, relatos daquele tempo incomodam-me muito e não preciso de os ver para estar consciente do que foi.
Felizmente não sofri com a guerra colonial dado que não tenho irmãos nem ninguém da família apanhado pela mesma.
Quanto à guerra e às suas atrocidades hão-de ter sido iguais às de todas as guerras.
Só a palavra guerra chega. Quanto à sua utilidade não devem restar dúvidas a ninguém que quase todas as guerras são inúteis.
Quanto ao que se seguiu à guerra colonial, com a descolonização, ainda hoje, cá e lá, se sentem as consequências.
Lamentavelmente as pessoas têm memória curta e não aprendem com os seus erros, daí que das pessoas se passe para as famílias com pais e filhos em guerra, das famílias para os povos com os consequentes genocídios, e dos povos para os países com as guerras que existem por todo o planeta.
Uma realidade que todos conhecemos, mas que não retira o brilho e a qualidade, nem ao programa do Joaquim Furtado, nem ao teu Post.
Beijinhos

Maria disse...

Há pedaços da nossa História recente que eu ainda não consigo comentar (nem ver, só ouvir) porque me são demasiado penosas....

Um beijo

Bichodeconta disse...

Ainda na clandestinidade, Aleixo escreveu , o que continua tão actual..
Á GUERRA NÃO LIGUES MEIA
PORQUE ALGUNS GRANDES DA TERRA
VENDO A GUERRA EM TERRA ALHEIA
NÃO QUEREM QUE ACABE A GUERRA..

Penso que continua a ser a mesma coisas, há sempre alguém que lucra com a guerra.. O programa do Joaquim Furtado, é de uma riqueza muito grande, mas as pessoas perferem ver revista cor de rosa continuar a ignorar aquela realidade de que só nos podemos envergonhar enquanto povo.. Um destes dias , apresentaram um TERRORISTA, e alguém comentava no dia seguinte que não pensava que os terroristas eram tão somente, pessoas iguais a nós, naquele caso, só tinha outra cor, mas era um terrorista, pode? Este tema é doloroso..pelo antes , pelo durante e até pelo após guerra..Um abraço, bom fim de semana..

Camilo disse...

Alex,
Fico contente por verificar que sabes distinguir o trigo do joio.
Praticamente vi todos os extractos das reportagens da RTP, ao longo da minha vida.
Em 1961, li o livro do Horácio Caio, então repórter da RTP: "Angola Horas do Desespero".
Dias depois embarquei para Luanda, onde estive até... 1992.
Estou de acordo contigo:
"Há muita gente que não sabe o que aconteceu".
Porém, estou convencido de que há "muita gente" que não quer que se "saiba".
Um abraço.
camilo

Anónimo disse...

"(...) Malhas que o Império tece.Jaz morto e arrefece, o menino de sua mãe..."

Estas frases do poema de Pessoa dizem bem da crueldade que foram as guerras. Lembram-me sempre a guerra colonial e o ano de 1968, era eu uma miúda pequena, a notícia horrível da morte do meu primo António Armando, 22 anos, uma vida pela frente que podia ter sido vivida. Morto numa emboscada com uma granada escondida que o esventrou, na Guiné. A injustiça de saber que os senhores dos impérios descartam sempre a morte para os pequenos.